By Kussi Bernardo
A memória de Tony Alexandre
Foge!!!
Corre....
Socorro!!
Ainda não tínhamos chegado aos acordos de paz de 1990 -91, e o tempo como sempre acontece não tinha decidido parar ou mesmo nos mostrar outro caminho. Parecia que o ano de 1987-88 era carregado de muito boas coisas apesar da guerra que nos rodeava, as notícias de mais uma bomba aqui, mais uma aldeia queimada ali, mais um recolher obrigatório aquela, mais uma rusga com sucesso no bairro x.
A nossa Viana de 1987-88 era um lugar próximo do paraíso apesar de toda a verdadeira e assustadora realidade do país e do mundo que ainda vivia com toda a garra a sua guerra fria, mas para nós era uma guerra bem quente no engaje, no kuando kubango, no Luena e atravessar com sucesso a canjala que hoje paramos para tirar uns selfies era uma obra superior a capacidade do super-homem ou homem-aranha, era uma coisa de verdadeiros heróis. Heróis a moda soviética, heróis de carne e osso e vida falível.
E no meio dos nossos campeonatos de futebol organizados pelo Lopito onde cada equipa participante pagava uma parte do campeonato com a inscrição, e o campeão levava toda a massa, nós jogávamos todos, uns com ténis, outros com chinelos, e outros sem chinelos, nem meias e nem ténis, mas jogávamos. Corríamos e jogamos o trinta e cinco e as escondidas na nossa inocência, e aos finais de semanas todos os encontros eram no Cine Kitumba para o filme do Gil dong, Gapa, ou Comando ou Godzilla ou o que na verdade estivesse disponível no cinema e sem muitas outras alternativas.
Bem era bom o tempo que passou com se pode lembrar com nostalgia qualquer pessoa que o viveu em Viana, mas ainda antes de terminar não posso deixar de falar dos bonecos do bumbo e o homem-banana ou o manda-chuva, mas não era este o propósito de ter aberto o baú das memórias, mas enfim...
... voltando ao cinema Kitumba, e ao motivo do título: Os Moxicanos
Foge!!!
Corre....
Socorro!!
Quando chegavam rasgavam o silêncio, rasgavam o paraíso, a paz de Viana, corriam as senhoritas, lutam os jovens para proteger a dignidade da damas, eram as apanhadas violadas, era um caos... tinham chegado os moxicanos, os homens que vinham da frente de combate de acordo com a conversa no bairro.
Estavam frustados e carentes de muita atenção e não respeitavam nada e ninguém. Tinham armas em punho, e a eles juntavam-se os mutilados que deviam ser heróis da guerra, mas eram simplesmente chamados de mutilados, sem um braço ou os dois, sem uma perna ou as duas, sem um olho ou os dois, sem uma combinação de membros superiores e inferiores completa, sem um abrigo próprio ou família por perto, e eram simplesmente mutilados e frustados. E a verdade é que mesmo com duas muletas corriam muito mais rápido que a maioria de nós e agrediam quem os abusa-se, e ainda batiam quem não os desse boleia.
Na realidade eu nem sei o que é 100% realidade e ou invenção, mas os "moxicanos" eram os chamados tropas destacados no Moxico, os "mutilados" eram os residentes da estalagem do quilometro 15 em viana que vinham para luanda para tratamento e desmobilizados da guerra quente.
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