quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Posfácio do Livro ControVerso

Posfácio

Desde a sua apresentação pública no dia 31 de Janeiro de 2007, o Controverso guarda um valor memorável por ser o marco que serviu de trampolim do movimento jovem interessado em fazer literatura e que se destacou na segunda metade da década passada. Este livro impulsionou estratégias e acrescentou valores à visão de uma geração preocupada com a literatura e com os movimentos literários embrionários, volvidos cinco anos depois da guerra civil.

O Controverso foi o princípio de um desafio através do qual temos a honra de nos orgulhar sempre que fazemos uma retrospectiva do Movimento Lev’Arte, e de outros movimentos afins que surgiram, no curso destes seis anos de actuação no mosaico cultural angolano. Um símbolo de dedicação e de interesse pelo bem comum, pelo património literário recente catapultado por uma juventude sem tréguas. A génese do axioma fazemos acontecer.

A capitalização de recursos que ajudaram a financiar a primeira edição desta obra, tornou-se expediente de um modelo actuante e novo no âmbito editorial. Centenas de cópias de exemplares do Controverso foram vendidas no ano de 2006, muito antes da existência física do livro e quando não estavam ainda traçadas as linhas gerais do que seria a finalização do livro em termos tipográficos. O mérito desta proeza, antes de recair sobre o autor do livro, Kardo Bestilo, recai sobre os familiares, amigos e pessoas próximas que depositaram confiança num projecto cultural que se quis ambicioso e benéfico, sem fins lucrativos. 

O livro também ajudou a romper tabus e preconceitos que sempre se opuseram entre escritores da nova e da velha geração. Muitos destes preconceitos residem no critério segundo o qual os novos escritores pertencem a uma escola onde a literatura produzida obedece pouco rigor literário. Um tipo de juízo que consideramos frágil e isento de fundamentação teórica, no âmbito do que escreveu o Prof. Carlos Reis, catedrático da Universidade de Coimbra e especialista em Literatura Portuguesa dos séculos XIX e XX no seu livro O Conhecimento da Literatura.

Num futuro próximo, este livro vai fazer lembrar a força de uma época e de um movimento destemido à procura de liberdade artística, e ansioso nas construções de novas correntes estéticas. Será assim, à semelhança da avalanche que deu lugar à Semana da Arte Moderna no Brasil do Presidente Washington Luís em 1922, quando se reclamava a renovação de linguagem na liberdade criadora, da ruptura com o passado e a transição da vanguarda para o modernismo estético.

O Controverso de Kardo Bestilo é a mascote desta alvorada cultural e símbolo de uma vanguarda que surge com vigor inovador e renovador. Um livro de poemas aberto e versos vibrantes. Um retrato social, uma fotografia de comportamentos como frisam os versos do poema A Tua Vida é Minha, onde o Ministro faz gala do que é por pagar as contas da sua concubina. Um livro cheio de vida e de histórias que nos são comuns e sempre apelando em nós reminiscências de um passado glorioso.


João Papelo

Ensaísta


Luanda, 14 de Maio de 2012 

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