quinta-feira, 24 de novembro de 2016

"Eu Quero Ler"

"Eu Quero Ler"

Não Desisti de Sonhar

A Mbala Neto

As lágrimas e sentimentos em cada novembro solitário do teu abraço, as horas do desejo de ter um ombro com mais kacimbos e conselhos prontos para cada ocasião.
Mas quis a vida ser assim arrebatadora e fez questão de com a voz sob influência casar-te com a ausência física permanente e garantida.

Hoje num tempo tão distante mas ao mesmo instante como o andar da paixão, não existe um real movimento das lembranças e sentimentos, como dizia o postal na montra da tabacaria Tem-Tudo no Kinaxixi em 1987 "Quem ama nunca esquece, quem esqueceu nunca amou". Assisto mais uma vez o filme baseado na autobiografia de Nelson Mandela "Longo Caminho Para Liberdade", e não posso deixar de sentir arrepios, soltar a chuva no canto do meu olho, pensar em como a luta para a liberdade não foi só mel e morangos, houve a dor, a noite em nossas vidas e o Sol da liberdade pelo qual sonhaste e pelo qual tiveste disposto a sacrificar a tua juventude.

E chegou o momento em que quiseste mais do que a liberdade, exigiste para o teu povo a justiça e a partilha, e mais uma vez sem olhar para as lágrimas, o vestido pintado de preto, a  rosa vermelha debutada num precipício sem olhos para os feitos ou ideais que defendeste e para os quais estiveste disposto e que tenho a certeza que preferias aqui estar, mas por eles e por tudo o que nunca saberemos aqui não estás.

O bom é que não desisti de sonhar e lembrar o bom que nos deixaste, e como disseste a tua pele não foi feita para fazer cabedal. E como podes imaginar eu acredito em ti, é possível termos uma humanidade com mais amor, justiça e conhecimento, sem nunca mais voltarmos a guerras e deixar as intrigas de escritórios, as diferenças das bandeiras, as cores de pele opostas, os pensamentos e ideais  divergentes, quero continuar a sonhar que poderão continuar a partilhar o mesmo ar e viver no mesmo rio.

Por uma Humanidade com mais conhecimento e justiça não desisti de sonhar meu herói novembrinho.  

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Os Moxicanos e os Mutilados de Viana

By Kussi Bernardo

A memória de Tony Alexandre

Foge!!!
Corre....
Socorro!!

Ainda não tínhamos chegado aos acordos de paz de 1990 -91, e o tempo como sempre acontece não tinha decidido parar ou mesmo nos mostrar outro caminho. Parecia que o ano de 1987-88 era carregado de muito boas coisas apesar da guerra que nos rodeava, as notícias de mais uma bomba aqui, mais uma aldeia queimada ali, mais um recolher obrigatório aquela, mais uma rusga com sucesso no bairro x.

A nossa Viana de 1987-88 era um lugar próximo do paraíso apesar de toda a verdadeira e assustadora realidade do país e do mundo que ainda vivia com toda a garra a sua guerra fria, mas para nós era uma guerra bem quente no engaje, no kuando kubango, no Luena e atravessar com sucesso a canjala que hoje paramos para tirar uns selfies era uma obra superior a capacidade do super-homem ou homem-aranha, era uma coisa de verdadeiros heróis. Heróis a moda soviética, heróis de carne e osso e vida falível.

E no meio dos nossos campeonatos de futebol organizados pelo Lopito onde cada equipa participante pagava uma parte do campeonato com a inscrição, e o campeão levava toda a massa, nós jogávamos todos, uns com ténis, outros com chinelos, e outros sem chinelos, nem meias e nem ténis, mas jogávamos. Corríamos e jogamos o trinta e cinco e as escondidas na nossa inocência, e aos finais de semanas todos os encontros eram no Cine Kitumba para o filme do Gil dong, Gapa, ou Comando ou Godzilla ou o que na verdade estivesse disponível no cinema e sem muitas outras alternativas.

Bem era bom o tempo que passou com se pode lembrar com nostalgia qualquer pessoa que o viveu em Viana, mas ainda antes de terminar não posso deixar de falar dos bonecos do bumbo e o homem-banana ou o manda-chuva, mas não era este o propósito de ter aberto o baú das memórias, mas enfim...

... voltando ao cinema Kitumba, e ao motivo do título: Os Moxicanos 

Foge!!!
Corre....
Socorro!!

Quando chegavam rasgavam o silêncio, rasgavam o paraíso, a paz de Viana, corriam as senhoritas, lutam os jovens para proteger a dignidade da damas, eram as apanhadas violadas, era um caos... tinham chegado os moxicanos, os homens que vinham da frente de combate de acordo com a conversa no bairro. 

Estavam frustados e carentes de muita atenção e não respeitavam nada e ninguém. Tinham armas em punho, e a eles juntavam-se os mutilados que deviam ser heróis da guerra, mas eram simplesmente chamados de mutilados, sem um braço ou os dois, sem uma perna ou as duas, sem um olho ou os dois, sem uma combinação de membros superiores e inferiores completa, sem um abrigo próprio ou família por perto, e eram simplesmente mutilados e frustados. E a verdade é que mesmo com duas muletas corriam muito mais rápido que a maioria de nós e agrediam quem os abusa-se, e ainda batiam quem não os desse boleia.

Na realidade eu nem sei o que é 100% realidade e ou invenção, mas os "moxicanos" eram os chamados tropas destacados no Moxico, os "mutilados" eram os residentes da estalagem do quilometro 15 em viana que vinham para luanda para tratamento e desmobilizados da guerra quente.

Os Sete "7" Sem Ti

By Kussi Bernardo

A memória de António Sabalo

O tempo sempre foi um indivíduo muito integrante para mim, a palavra aqui escolhida é muitas vezes utilizada em metafísica e estatística para se referir ou identificar qualquer coisa singular, refiro-me a palavra indivíduo.

A sua forma invisível e instantânea que consegue dançar com os nossos sentidos, não pode deixar de tocar qualquer mente pensante. Olhamos para história da humanidade e as grandes questões de toda a humanidade sempre foram à volta do tempo. O sonho da criação da máquina do tempo, a capacidade de voltar no tempo e poder alterar ou corrigir alguma coisa. Mas o tempo é o tempo que nós não conhecemos e no final dos dias queremos sempre poder ter o controlo e a capacidade de ajustar o mesmo para os nossos desejos.

Como eu mesmo, e alguns cientistas em dado momento pensamos e arquitectamos uma formas de criar uma máquina do tempo para corrigir ou salvar uma dada situação da humanidade. Pelo que vemos nos filmes e que faz alguma lógica alterar um evento no tempo pode ter um "efeito borboleta" sobre o presente levando mesmo a inexistência de algumas pessoas do presente e como consequência uma mudança da história tal como a conhecemos.

O tempo em sete anos ou em uma década tem uma passagem muito rápida, mas a verdade é que quando olho para os últimos sete anos posso fazer uma balanço de feitos e transformações, mas não há como não balancear o número de pessoas queridas que deixaram de respirar e partilhar o nosso dia-a-dia, é bem verdade que também recebemos muitas novas pessoas em nossas vidas que também trazem alegrias.

O bom do tempo é que também grava em nossas memórias recordações que já mais esqueceremos assim como a tua gargalhada, os teus conselhos, a tua boa disposição e os teus ensinamentos que fazem de nós o que somos hoje meu pai. No entanto não deixa de ser verdade que gostaria que aqui ainda estivesses para uma boa conversa e aquela nossa troca de ideias para atravessar e gerir da forma mais ágil e estratégica as mudanças sem fim deste mundo em constante transformação meu Pai.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

E Todo o País Tem

O meu hino vibra comigo e faz acender as chamadas da angolanidade em mim...

Bem isso não é uma novidade para quem me conhece e nem para mim, mas nos últimos dias a minha filha de quatro anitos passa o dia quase todo a cantar o hino, e é de facto um sentimento de orgulho ouvir a minha princesa rosa a entoar com tanto carinho e repetidas vezes o hino que foi escrito na véspera da nossa independência formal dos quinhentos anos de invasão colonial.

Talvez o Manuel Rui tivesse tido outras vontades, talvez o Rui Mingas tivesse outro som em mente, mas foi o sentido de pátria, o furor da liberdade, a dor, a alegria, o sol e os sonhos realizados de um povo. A vitória das lutas de Jinga, Mandume, Mbala Neto, António dos Santos, António Sabalo, António Santana, Maria, João, Baltazar, Matoso e tantos outros nomes conhecidos e não conhecidos, que viveram e que não viveram o momento, mas que entre todas as coisas como cantou Teta Lando compreenderam os mortos porque morreram, festejam os vivos porque valeu a pena a independência, e grito eu é um Orgulho ter uma Pátria e um hino como o meu Angolano.


Hino Nacional de Angola

Ó Pátria, nunca mais esqueceremos
Os heróis do 4 de Fevereiro
Ó Pátria nós saudamos os teus filhos
Tombados pela nossa Independência
Honramos o passado e a nossa História
Construindo no trabalho um homem novo
Honramos o passado e a nossa História
Construindo no trabalho um homem novo

Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade
Um só Povo, uma só Nação!
Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade
Um só Povo, uma só Nação!

Levantemos nossas vozes libertadas
Para glória dos povos africanos
Marchemos, combatentes angolanos
Solidários com os povos oprimidos
Orgulhosos lutaremos pela Paz
Com as forças progressistas do mundo
Orgulhosos lutaremos pela Paz
Com as forças progressistas do mundo

Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade
Um só Povo, uma só Nação!
Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade
Um só Povo, uma só Nação!